Alguns apontamentos engraçados sobre as eleições presidenciais

Vencedores

Estas eleições presidenciais tiveram um resultado muito curioso, que dá pano para mangas para se pensar a realidade política em Portugal.

Há vencedores fáceis de consagrar: Marcelo Rebelo de Sousa que ganhou à primeira volta, Marisa Matias, que teve o melhor resultado de sempre do BE numas Presidenciais, e o Tino de Rans, Vitorino Silva, que pisou os calos e ultrapassou em votos e em muitos círculos, vários candidatos do sistema.

Os derrotados também são fáceis de perceber: Sampaio da Nóvoa que não consegue a segunda volta, Maria de Belém e Edgar Silva, ambos com o pior resultado da área política que os apoiou, Paulo Morais por se revelar que é preciso mais do que gritar contra a corrupção e Henrique Neto, Jorge Sequeira e Cândido Ferreira por terem votações sem qualquer expressão política.

O PSD e o CDS festejam porque elegeram um dos seus, ainda que ele não diga já tudo o que eles querem ouvir. Marcelo Rebelo de Sousa é um conservador, mas é um conservador que nunca falou mal do governo das esquerdas e disse sempre que não será por ele que não vai governar todo o mandato. Para amaciar a direita citou o Papa, estendeu a mão, mandou calar a plateia e atacou as pulsões radicalistas, mas o que a direita queria ouvir era outra coisa conforme se percebeu pelo semblante de Passos e Portas.

O PS parece tranquilo, tem como líder alguém que não precisa de vitórias eleitorais para ter poder. António Costa seria sempre um homem feliz fosse qual fosse o resultado das eleições e nem sucessivas derrotas eleitorais o parecem abalar. A verdade é que nenhum candidato lhe apontou o dedo e todos lhe deram garantias que a sobrevivência do governo depende unicamente do PS e da sustentabilidade dos acordos que fez com os partidos à sua esquerda. É nisto que ele agora fará contas. Se a direita não tem como derrubar o governo ele sabe que o PCP e o BE o vão fazer, pelo que será ele, de braço dado com Marcelo, a escolher o momento da antecipação que lhe permitam ficar com os créditos que a governação for capaz de dar e atribuir à esquerda o ónus do derrube do governo.

O BE festeja o seu resultado e festeja bem ainda que alguma contenção fosse prudente dada a inexistência de uma segunda volta. Contrariamente ao que muitos pensavam os eleitores do BE não se deixaram ludibriar pelo voto útil, uma capacidade sobretudo notável para um partido que tem passado boa parte da sua existência a reforçar esse caminho. Não garantiram a segunda volta, mas foram de todos os que mais fizeram por isso.

O PCP diz que a culpa é dos candidatos “engraçadinhos e engraçadinhas” (ouvir aqui na integra), mas vai ter que se dedicar melhor à leitura dos resultados para conseguir uma explicação mais capaz de justificar ter perdido por muitas dezenas de milhares de votos para a Marisa Matias no resultado geral e por ter perdido para o Tino de Rans em 12 (Viana do Castelo, Porto, Viseu, Braga, Vila Real, Bragança, Aveiro, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Açores) dos 20 círculos eleitorais em disputa.

Nas candidaturas marginais o Tino de Rans foi mesmo o único a ganhar, deixando uma mão cheia de lições muito claras para quem, na sombra, conspira para mudar a relação de forças no xadrez do sistema. É preciso ser autêntico e falar dos temas que preocupam as pessoas no seu quotidiano. Não é preciso um programa acabado de governo, mas é mandatório que não se venda gato por lebre.

15 opiniões sobre “Alguns apontamentos engraçados sobre as eleições presidenciais

  1. « É preciso ser autêntico e falar dos temas que preocupam as pessoas no seu quotidiano.»

    Mas ele fez isso?

    Quando?

    Quando espetou um tronco de uma árvore numa praia e disse que o seu acto era comparável aos descobridores, quando lançaram os padrões de descobrimento pelo Mundo fora?

    Quando deixou uma turista espanhola confusa, por dizer que falava com todos os portugueses em 3 segundos (e rodou sobre si mesmo, dizendo «norte», «sul», «este», «oeste»)?

    Quando novamente falou com turistas estrangeiros, em Portimão e pediu que todos dissessem «gostamos» à sua candidatura?

    É esta digna palhaçada de circo pobre que vocês acham ser autêntico?

    Cuidado, porque podem ficar ao nível de Tino de Rans.

    Inacreditável!

    1. Antes ao nível do Tino do que de muita da sua concorrência. Quanto à substância dizer apenas que, sem grande esforço e competência, é possível encontrar maneira de se falar das coisas que dizem respeito à vida. O Tino fez isso melhor que os outros, seja a falar da dívida e do medo seja a beber uns copo na tasca de Rans.

  2. Dito e feito, saí de casa e fui votar no Vitorino. Já não votava numas eleições desde as europeias de 2009, se não me engano.
    Antes ficar ao nível do Tino do que ao nível do Marcelo. Não tenho dúvida nenhuma que o Tino é muito mais inteligente que o Marcelo. O Marcelo é mesmo um medíocre, acho até que uma criança de 7 anos com síndrome de down é mais inteligente que o Marcelo

    1. Ou seja, fico a saber que não fio votar contra o Passo Coelho nas últimas eleições. O tema da austeridade não lhe interessou…
      Portanto, contribuiu para o triste espectáculo do palhaço pobre, Tino de Rans.

      Haja paciência!

      1. Marcelo = Palhaço rico
        Tino = Palhaço pobre

        Ambos, vendedores de banha da cobra.
        Ao votarem em Tino, vocês contribuíram ainda mais para este triste espectáculo de circo.

        Tristeza!

      1. Honra e classe com Tino ou «à Tino».
        Normalmente, quem tenta ser medíocre, é medíocre, de facto.
        Os piores exemplos não trazem nada de novo.

  3. O esforço para a contradição vê-se que não foi grande. Então, “Contrariamente ao que muitos pensavam os eleitores do BE não se deixaram ludibriar pelo voto útil” para depois “O PCP (…) ter perdido por muitas dezenas de milhares de votos para a Marisa Matias”. Vá lá, mais aplicação na redacção.

Deixe o seu comentário.