O país dos falsos recibos verdes, dos contratos a termo e da precariedade generalizada é também o país das propinas, do acesso dificultado à bolsa de estudo e da mercantilização do ensino. Estes dois fenómenos não devem ser compreendidos em separado, mas integrados numa totalidade social. A crise estrutural do capitalismo abriu caminho a uma ofensiva contundente sobre todos os trabalhadores. Esta investida não só se traduziu em cortes salariais, em aumento do tempo do trabalho ou em despedimentos. Ela também se manifestou no modo como os grandes proprietários de capital tentaram e tentam a todo o momento liquidar as funções sociais do Estado. Neste processo de acumulação capitalista, a educação desempenha um papel muito importante. Ela é configurada pela classe social dominante – aquela que controla a economia de um país – no sentido de manter a ordem social e reproduzir a dominação dessa classe capitalista sobre aqueles que são explorados. Daí que exista uma constante tentativa de estruturá-la de acordo com os interesses dos bancos e de outros grandes grupos económicos e financeiros. Diríamos, com mais precisão, que a educação funciona como mediadora da integração social dos indivíduos, nomeadamente no trabalho. Não podemos, por isso, ficar surpreendidos quando nos apercebemos que as universidades – sendo que algumas já funcionam como autênticas empresas por via do regime de fundação privado – dificultam o acesso dos alunos ao ensino superior por força dos elevados custos, encerram cursos sob o pretexto de falta de empregabilidade ou moldam o conteúdo curricular de acordo com as necessidades do mercado. Os factores enunciados, acrescidos de uma banalização da licenciatura e de um desemprego massivo, proporcionam às empresas mão-de-obra pouco qualificada e qualificada que se encontra susceptível a realizar estágios não-remunerados ou a trabalhar sem direitos. Neste momento, o processo de precarização do trabalho encontra-se em fase de aceleração e tanto os estudantes como os estivadores constituem um alvo.
Face ao exposto, a luta dos estivadores é uma luta que diz também respeito aos estudantes. Os ataques dos operadores portuários sobre os estivadores, ainda que guardando especificidades, se articulam com o conjunto dos problemas que assolam os trabalhadores e estudantes em geral. Todos eles participam e se encontram envolvidos no actual momento histórico. Um mundo sem contratos colectivos de trabalho, onde o trabalho com direitos é substituído por vínculos laborais diversificados, baixos salários e turnos intermináveis mais não é que o mundo para o qual o sistema de ensino prepara os seus estudantes. O ênfase no indivíduo separado da sua dimensão social e alienado, que não consegue sequer vislumbrar para além dos seus interesses privados prepara a domesticação de futuros trabalhadores sem capacidade de participar colectivamente no que quer que seja. Os estudantes necessitam de criar organizações estudantis que transportem as suas lutas dos estabelecimentos de ensino até ao conjunto da sociedade. A polarização da luta de classes assim obriga; impele para uma tomada de partido. No passado e até recentemente, os estudantes já provaram que podem assumir-se como sujeito activo das lutas sociais participando ao lado dos trabalhadores. No dia 16 de Junho de 2016 pelas 18 horas estarão junto dos estivadores a percorrer o trajecto que vai do Cais do Sodré até S. Bento. Contra a precariedade e a exploração capitalista, passemos da teoria aos actos, das salas de aula à transformação social e dos livros à luta de classes!
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