Isaltino Morais ganhou em Oeiras, com maioria absoluta. Como alguém disse na rede, enquanto na Catalunha os eleitores são presos por tentarem votar, em Oeiras a maioria dos votos expressos votou em quem foi preso. Mas atenção, um alerta importante. As eleições em Oeiras não são bem uma eleição, os capangas que animaram a noite eleitoral, dominam o Concelho através de uma rede de caciques que é tudo menos democrática, que durante o dia de eleições monta uma autêntica máquina de angariação de votos, apenas livres do ponto de vista formal, mas coagidos pelos diferentes sobas do Concelho. Quem vota em Oeiras sabe perfeitamente do que acontece em dia de votos. Carrinhas a angariar eleitores nos bairros num vai e vem frenético, coação à porta dos locais de voto, uma ciranda de gangsters perverte aquilo que é a expressão livre da vontade popular. Não é o único local onde isto acontece, é certo, mas será daqueles onde estes procedimentos garantem um maior número de votos em urna e maior distorção provocam nos resultados finais. No caso, terá feito toda a diferença entre a maioria simples e a maioria absoluta, um detalhe que radicalizará a quadrilha que reconduziu Isaltino ao poder em Oeiras, seja para levar a cabo a vendeta contra aqueles que não enfiaram no bolso, seja na impossibilidade de haver o mínimo de controlo democrático sobre os próximos quatro anos de gestão autárquica. Nos próximos quatro anos, Oeiras viverá num regime de excepção, uma espécie de lei marcial onde quem não se vergar a Isaltino e ao seu bando, precisará de reforçar a dose de paciência, coragem e rebeldia. Gondomar, Matosinhos, Odivelas, entre outros Concelhos muito abaixo no nível médio de escolaridade do que aquele que ostenta Oeiras, conseguiram livrar-se dos seus déspotas, sobra este feudo como último reduto dos terroristas do poder local. Ontem todos os que combatem Isaltino perderam uma batalha, mas a guerra ainda agora voltou a começar.
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Gangsters Autárquicos
Isaltino Morais não é um caso raro na política portuguesa, mas é, entre a generalidade dos caciques do poder local, um espécime sem qualquer preocupação em mitigar a sua fanfarronice. Mais do que um Alberto João, mais do que um Rui Rio, mais do que um Loureiro, Avelino, Machado, enfim… mais do que qualquer outro da estirpe dos autarcas sem escrúpulos, Isaltino é de todos aquele que tem menos vergonha na cara. À falta de pudor em roubar o Estado, soma-se a falta de pudor em voltar a pedir o voto para o efeito, à falta de pudor por ter sido condenado a roubar o Estado, soma-se a vontade de levar essa condenação a votos. É perverso. Contorcido mesmo. Mas não deixa de ser curioso que, caso volte a ser eleito, essa eleição tenha como significado uma espécie de absolvição póstuma com direito a prémio de recompensa e um castigo aos tribunais e aos poucos juízes que tiveram a coragem de levar esta gente a ver nascer o sol a partir da prisão.
É isso que tem que ser dito, à exaustão, até dia 1 de Outubro. Cada eleitor de Isaltino, como cada eleitor de qualquer outro candidato que se aproxime deste perfil, não é um simples eleitor, é alguém que faz parte da associação criminosa, alguém que, receba ou não mais-valias, é cúmplice de cada um dos crimes que já foram cometidos e, pior, estratega dos crimes que ainda estão por vir caso os líderes da quadrilha voltem a ser eleitos.
Líder de um Estado confessional convoca conferência de imprensa para oração colectiva
Contra o medo e a submissão, coragem e desobediência
Fotografia enviada por leitor, retirada num dos prédios devolutos da cidade de Lisboa. Legenda: Security Check. Materials: Fear and Submission. By: Forest Dump.
Camorra Lusitana
Salgado, Bataglia, Bava, Oliveira e Costa, Loureiro, Lima, Núncio, Sócrates, Portas, Cavaco… isto ainda não é a Camorra, mas parece. A geringonça está tão capaz de travar isto como Roma está capaz de travar a máfia siciliana. A impunidade, que devia ser um convite à insubordinação, desfila, ad nauseam, em prime time, para se defender sem contraditório. A presunção da inocência, neste contexto, equivale a uma absolvição sem julgamento. Que ninguém se espante quando o Buíça se levantar da cova.
Trump’s coming!
Adrien Silva, o líder da revolta contra Bruno Carvalho e Jorge Jesus
Em causa as palavras de Jesus, aqui autopsiadas, e a raiva contra Bruno Carvalho, o patrão que não o deixou sair para ir jogar num clube à altura da qualidade do perfume do seu futebol. Isso ou então são saudades de jogar na Briosa. Tudo compreensível, em suma.
Não é pós-verdade, é propaganda. O caso da jornalista “independente” canadiana.
Já o tenho dito, a pós-verdade é a apenas uma finta de quem perdeu o monopólio da mentira. Se não é novidade que o papel dos EUA e dos seus aliados é execrável, que mentem e matam sem qualquer pudor para atingirem os seus objectivos e amplificarem o seu poder, é curioso que quem supostamente lhes faz frente escolha, sem pudor, a replicação dos seus métodos.
A guerra da propaganda sobra a Síria é disso um bom exemplo. Para excitar os campistas, que ainda acreditam que o mundo é uma bateria com dois pólos e que o muro de Berlim continua de pé a proteger os povos do capitalismo – como se a Rússia não fosse hoje a segunda ou terceira potência do império – basta colocar uma jornalista ocidental, um moderno rollup das nações unidas, para que grite aos sete ventos que afinal Assad é um anjo caído do céu para salvar os sírios da Síria. Mas não é bem assim, muito pelo contrário.
Depois de viralizar, o vídeo de Eva Bartlett, jornalista canadiana, foi finalmente desmontado (aqui, aqui ou aqui). Afinal, esta jornalista é uma colaboradora da propaganda russa e não uma jornalista “independente”, não apresentou um único facto, e a suposta desmontagem da “propaganda ocidental” limita-se à afirmação de que todos os que no terreno não repetem o que diz Assad estão a mentir, apostando ela mesma numa nova variação de negacionismo.
O ridículo já matou, noutras circunstâncias, os meios de comunicação convencionais. No Iraque, na Palestina, no Afganistão, nos EUA, a imprensa ocidental não tem moral para moralizar ninguém, mas que Assad use as mesmas maquinações para dobrar a seu favor a opinião pública não pode ser tolerado.
Bashar Ja’afari, embaixador da Síria nas Nações Unidas, já o tinha tentado, ao mostrar fotografias feitas no Iraque para demonstrar a alegada compaixão do exército sírio para com a população de Aleppo.
Os números, infelizmente, falam muito alto, e na Síria o terror tem assinatura que deixam claro que o regime de Assad é quem mais sírios assassinou ao longo da guerra. Sobre isto, claro, a dita jornalista “independente” canadiana nada tem a dizer. Já todos os que não se queiram render à propaganda dos dois campos em conflito, têm que desenvolver um grau de desconfiança que lhes permita verificar, o que for possível de verificar, sobre os factos no terreno. Depois de desconfiar uma, duas e três vezes, confirmem os factos. Na guerra da propaganda não há inocentes.