Está para breve a publicação local da sequela da “Insurreição Que Vem” assinada pelo Comité Invisível. Ao longo das próximas semanas iremos deixar aqui alguns excertos de “Aos Nossos Amigos”. Aos mais ansiosos sugerimos entretanto a leitura de Burning Dwelling Thinking, uma extensa crítica elaborada por Alberto Toscano.
“As insurreições chegaram, mas não a revolução. Raramente teremos visto, como nestes últimos anos, num lapso de tempo tão condensado, tantas sedes do poder oficial tomadas de assalto, desde a Grécia até à Islândia. Ocupar praças bem no centro das cidades e aí montar tendas, e aí erguer barricadas, cantinas ou barraquinhas, e aí reunir assembleias, tornar-se-á em breve um reflexo político elementar como ontem o foi a greve. Parece que esta época começou até a segregar os seus próprios lugares-comuns – como esse All Cops are Bastards (ACAB) que a cada golpe de revolta passa agora a pintalgar as paredes decrépitas das cidades, no Cairo como em Istambul, em Roma como em Paris ou no Rio. Mas por maior que seja a desordem por baixo dos céus, a revolução parece por todo o lado asfixiar na fase de motim. Na melhor das hipóteses, uma mudança de regime sacia por instantes a necessidade de mudar o mundo, para muito rapidamente reconduzir à mesma insatisfação. Na pior, a revolução serve de estribo a esses tais que, falando em seu nome, não têm outra preocupação senão liquidá-la. Noutros sítios, como em França, a inexistência de forças revolucionárias suficientemente confiantes nelas próprias abre caminho àqueles cuja única ocupação é justamente dissimular a confiança em si e de a apresentar como espetáculo: os fascistas. A impotência azeda.
Neste ponto, há que o admitir, nós os revolucionários fomos derrotados. Não porque não tenhamos perseguido a “revolução” enquanto objetivo após 2008, mas porque fomos privados, de forma contínua, da revolução enquanto processo. Quando fracassamos podemos atirar-nos contra o mundo inteiro, elaborar com base em mil ressentimentos toda a espécie de explicações, e até explicações científicas, ou podemos interrogar-nos sobre os pontos de apoio que o inimigo dispõe em nós próprios e que determinam o carácter não fortuito, mas repetido, das nossas derrotas. Talvez nos possamos questionar sobre o que resta, por exemplo, de esquerda nos revolucionários, e que os condena não apenas à derrota mas a um efeito de repulsa quase geral. Uma certa forma de professar uma hegemonia moral para a qual não dispõem dos meios é, também entre eles, um pequeno defeito de esquerda. Tal como essa insustentável pretensão a decretar a forma justa de viver – aquela que é verdadeiramente progressista, esclarecida, correta, desconstruída, não‑suja. Pretensão que enche de desejos de morte quem quer que se encontre dessa forma relegado para as fileiras dos reaccionários-conservadores-obscurantistas-limitados-campónios-ultrapassados. A apaixonada rivalidade dos revolucionários pela esquerda – a vendida, a luxuosa, a governamental – é precisamente o que os mantém no seu terreno. Larguemos as amarras!”
Aos ansiosos francófonos: http://revueperiode.net/bruler-habiter-penser-a-propos-de-a-nos-amis-du-comite-invisible/
Boas!
Fazer revoluções sem saber o que se está a fazer normalmente culmina nas tais “derrotas”… Sucessivas! O que, na realidade, não é nada que cause surpresa!
Quando uma minoria inicia uma revolta/insurreição – e espera que a mesma evolua e atinja o nível “revolução” – tem de ter a plena consciência de que a maioria restante vai LUTAR com todas as forças para manter a situação actual, pois afinal de contas a maioria está satisfeita (ou conformada) com o estado actual (seja ele qual for).
Ora, até à data nunca se observou uma maioria decidir de forma a revolucionar o sistema vigente e, como é lógico, a perder.
As tais “insurreições” tipo esta não levam a nada… Como se viu!
Para resumir, enquanto não quisermos DE FACTO PERDER e com a PERDA alterar radicalmente o sistema actual, então todas as insurreições nunca deixarão de ser apenas isso… Insurreições que a nada levam!
Abr
Republicou isto em Estética e Arquitetura.