Depois de um documentário pouco afortunado sobre a turistificação do centro de Lisboa, o colectivo Left Hand Rotation fez este must-see recentemente apresentado numa sessão muito concorrida no Doc Lisboa, que acompanha e dignifica quem tem lutado na capital portuguesa contra a ditadura da especulação e a violenta onda de despejos:
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Coimbra, cidade desaparecida – deserto, metrópole, espectáculo
Sou natural de um lugar que já não existe.

Deserto
Nasci na Rua da Sofia, em plena Baixa, haviam passado cinco anos desde a queda do Estado Novo. Era, naquela altura, o coração da cidade. Para lá de estar no centro da vida comercial, mediava entre o labirinto de ruelas populares da Baixinha e os acessos à parte alta e nobre da cidade. Nessa altura, Coimbra era palco de uma vida social razoavelmente animada. Os moradores abasteciam-se diariamente no mercado central e em pequenas mercearias espalhadas por todo o lado. Encontravam-se regularmente em cafés com amigos e vizinhos, facto que explica as inúmeras memórias que guardo do concorrido café situado no rés-do-chão do primeiro prédio onde vivi. Nas noites de Verão, na Praça da República, reunia-se uma multidão de pessoas de todas as idades, vindas maioritariamente a pé, para simplesmente se encontrarem umas com as outras, sem o ânimo de consumir o que quer que fosse. Lembro-me da praça cheia de diferentes grupos de pessoas, formando círculos, de pé à conversa, enquanto os mais pequenos corriam errantes como morcegos, perdidos no meio da agitação.
Disseminado por ruas, mercado, mercearias, praças e cafés, o convívio marcava a vida da cidade e o carácter dos seus habitantes. Talvez fosse ele a explicar por que era tão fácil encontrar-se simpatia, abertura e alegria num conjunto tão vasto de pessoas. Foi nesse ambiente tolerante, de intensa comunicação e interacção colectiva, que tive a sorte de crescer. Entretanto, muitos cafés desapareceram ou foram completamente transformados, bem como a quase totalidade das mercearias e do pequeno comércio. As praças desertificaram-se, acabando por tornar-se cenários pitorescos para esplanadas que, como é hoje evidente no Largo da Portagem ou na Praça Velha, servem acima de tudo as pobres expectativas turísticas. As ruas por onde, em criança, eu andara livremente a pé, de skate e de bicicleta, tornaram-se rodovias poluídas e congestionadas, com um baixíssimo rácio de transeuntes por automobilistas. O abandono e a perda de todos estes lugares – aos quais é até possível somar esses velhos bastiões do comunitarismo e da autogestão que eram as Repúblicas de estudantes, hoje uma pálida réplica do que ainda há poucas décadas eram – levou à ruína da vida colectiva.

Metrópole
O que está agora no lugar de uma cidade outrora viva e vivida é o embrião de uma metrópole indiferente aos habitantes, cujo território, devorando os montes que antes rodeavam a cidade e cujo denso mato me fartei de explorar em adolescente, se expandiu bem para lá dos limites citadinos. Na metrópole impessoal que gradualmente se estende a vilas e cidades vizinhas como Cantanhede, Montemor ou Condeixa, não há já ruas, perigosamente favoráveis aos encontros espontâneos e à vida colectiva, mas meros eixos rodoviários que não podem ser vividos nem apropriados, apenas individualmente atravessados, como eficientes auto-estradas.
Após décadas de esvaziamento da sua vida e cultura, a ‘lusa Atenas’ – como alguém outrora chamou à cidade – está agora diluída no seio de um território homogéneo, em contínua expansão geográfica, meticulosamente planificado por industriais, empresários, construtores e decisores políticos. Este território sem comunidade, desenhado pelos poderes públicos e privados, serve em primeiríssimo lugar o restrito grupo de empresas que sobreviveram à concentração oligopolista do mercado único, as quais, graças a uma rede de infraestruturas públicas expressamente criadas em seu serviço, lhe impuseram os novos pólos geográficos. Estruturam assim o desenho do novo espaço urbano grandes superfícies (de cadeias como Continente, Staples, Fnac, Decathlon, Lidl, Leroy Merlin, etc.) onde se escoam as mercadorias das multinacionais que comandam a produção industrial (Samsung, Nike, Microsoft, Nestle, Procter & Gamble, Pfizer, etc.). Este território, feito à medida da economia e não da colectividade, incita os indivíduos ao consumo mercantil massificado enquanto bloqueia a comunicação directa e livre entre si.
Para lá destas zonas comerciais, os novos centros periféricos, sobre os quais se organiza a metrópole emergente, dispõem-se igualmente em torno de zonas residenciais, empresariais, universitárias e hospitalares, todas elas desconectadas da ‘velha’ cidade e devidamente separadas entre si, num zoneamento taylorista do território que aumenta a extensão dos trajectos diários e torna os habitantes dependentes do automóvel. É uma dispendiosa rede de mobilidades, dominada pelos transportes individuais em detrimento dos colectivos, que articula estas diferentes zonas num todo orgânico, produtivo e eficiente.
Espectáculo
No seio do novo quadro urbano, a ‘velha’ cidade, tornada obsoleta com o aparecimento dos novos centros periféricos, viu serem-lhe atribuídas duas novas funções interligadas: uma simbólica, a de recurso identitário; outra económica, a de recurso turístico. Se, num primeiro momento, decisores públicos e investidores privados esvaziaram e suprimiram a cidade para colocarem no seu lugar a metrópole, que servia infinitamente melhor os interesses mercantis (por potenciar o consumo massificado), num segundo momento, decidiram recuperar a imagem da cidade desertificada, quando perceberam que também esta poderia ser vendida (a um novo público: os turistas), enquanto paralelamente poderia funcionar como poderoso símbolo identitário (para os habitantes da metrópole emergente – é por exemplo esta imagem nostálgica que surge no anúncio da candidatura “Coimbra Capital Europeia da Cultura 2027”).
O turismo, surgido na época romântica como mercantilização de cenários pré-industriais e entrado agora na fase em que se expandiu a todas as velhas cidades pitorescas onde é possível levar turistas em segurança e conforto, não poderia deixar de se interessar pelo território da velha Coimbra entretanto desertificado. Os turistas encontrarão facilmente um cosy apartment numa ruela estreita da Baixinha, perto de cafés com doçaria regional e de uma nova mercearia típica onde poderão comprar souvenirs em forma de sabonetes artesanais ou de conservas de carapaus em tomate. A cidade que fotografam está morta. A Baixa está morta. A Alta está morta. Foram esvaziadas das múltiplas funções (económicas, sociais, culturais) que lhes permitiam serem habitadas por uma população diversa. Mas a sua materialidade continua lá. Mais ‘típica’ e ‘autêntica’ do que nunca. Recuperada e requalificada em prol da monofuncionalização turística.
Há já alguns anos era editado um livro surpreendente sobre Coimbra chamado “A velha Alta desaparecida”. Na altura, comoveu muitos dos jovens amantes da cidade, que assim ficaram a conhecer o que teve de ser terraplanado para que o Estado Novo erguesse o monumental complexo universitário na zona alta, hoje parte do conjunto classificado como Património Mundial da UNESCO. Quem, como eu, fizera as suas primeiras derivas urbanas naquele cenário sentiu uma revolta difícil de descrever ao ver as imagens do que se perdera. Se hoje se editasse um livro pertinente sobre a mesma cidade, o título teria de ser “Coimbra, cidade desaparecida”. Porque o que entretanto desapareceu não foi um simples fragmento. Foi a cidade inteira. Mas permaneceu a sua forma, numa versão cada dia mais restaurada e higienizada, enquanto mercadoria cultural de consumo turístico, como tem ocorrido em tantas outras cidades, em Portugal e no mundo.
Eis um fado que não pertence só a Coimbra.
Cidade e mercadoria: quatro notas
Tentarei ordenar aqui um conjunto de ideias relativamente bem conhecidas sobre a mecânica interna da cidade capitalista. Serão brevemente exploradas quatro grandes dinâmicas responsáveis pela evolução e o funcionamento do território urbano tal como hoje o conhecemos e cuja articulação assegura o cumprimento da função vital do capitalismo: a reprodução mercantil.
Lisboa, Chão Salgado
Aqui, o texto de Maria Ramalho sobre a ilegal e ilegítima tomada imobiliária do centro de Lisboa, devidamente apoiado em dados e factos – publicado hoje no Público.
A deriva na Internacional Letrista: para uma crítica radical do urbanismo – por Maria Ramalho
Já imaginaram como seriam as nossas vidas se, no quotidiano, em vez de centros históricos meticulosamente preparados para o consumo turístico ou de subúrbios estéreis e monótonos, tivéssemos à nossa inteira disposição palácios delirantes com rios subterrâneos, candeeiros urbanos munidos de interruptores, parques infantis no interior de igrejas, estações de comboios sem indicação das chegadas e partidas ou obras-primas de arte distribuídas pelos bares nocturnos? Então deveriam ler o texto de Maria Ramalho. Um óptimo contributo para a reflexão sobre a cidade.
Propriedade privada, propriedade sagrada
O Relatório Anual de Segurança Interna de 2017 que foi ontem divulgado aponta como motivo de preocupação securitária maior “a ocupação de imóveis devolutos no Porto e em Lisboa”. Num país e numa sociedade onde é normal os supermercados destruírem diariamente toneladas de comida que sobra, impedindo o seu aproveitamento por quem não faça parte do mercado e não cumpra a lei sagrada do capitalismo de que não pode existir valor de uso sem existir valor de troca, é também normal que “a legislação obrigue a emparedar um imóvel, quando não é possível, no imediato, proceder à sua reabilitação. Estando todo o edifício abandonado, devem ser emparedadas com tijolos, as portas e as janelas mais baixas do imóvel, para que não seja invadido por quem lhe possa, por descuido ou vandalismo, pegar fogo. Não o fazendo voluntariamente, as próprias autarquias podem intimar o proprietário a fazê-lo. Não o fazendo, muitas câmaras, tomam elas mesmo a iniciativa de emparedar o imóvel, apresentando posteriormente a fatura ao proprietário.” Ocupar um imóvel para convertê-lo no lar de uma família ou num equipamento sócio-cultural representa um perigo para a segurança interna porque significa romper com a lógica dominante que atribui maior valor (legal) à mercadoria e à propriedade privada do que ao ser humano e às suas necessidades. E, hoje, a principal incumbência da polícia é certificar o distribuidor de mercadorias e o proprietário de imóveis que a lógica mercantil que defende os seus interesses se mantém intacta e que os humanos sem condições (ou sem o objectivo) de integrar o mercado continuarão excluídos, marginalizados e criminalizados.
“Os pobres estão a ser expulsos do centro, e isso está a acontecer a grande velocidade”
Hoje, num interessante artigo de opinião, Pedro Machado escreve sobre “uma Lisboa que vai morrendo aos poucos”. Aí encontramos várias passagens do calibre das que aqui transcrevo:
“Estabelecimentos (…) muito estimados pelos habitantes locais desapareceram sobretudo pela acção do implacável compressor especulativo. (…) Existem diferentes causas para estes encerramentos, mas nem sempre se trata de falta de clientela ou viabilidade económica. O que acontece em muitos casos são rendas que atingem valores muito acima da realidade económica do país, e por vezes é apenas uma questão de opção e de conceito, por exemplo, um hotel que não quer a sua imagem associada a um lugar de cariz popular”
“Do café Palmeiras não sobraram sequer as suas belíssimas arcadas e o seu magnífico pé direito — a ânsia de rentabilização foi tal que o rés-do-chão foi convertido em dois pisos.”
“O café Estádio, no Bairro Alto, era um marco indelével da antiga boémia lisboeta, tratava-se do casamento perfeito entre o café de bairro e o destino dos errantes nocturnos e dos inconformados (…) noite fora praticava-se a tertúlia e a boémia. (…) Às sextas e sábados à noite era frequente não encontrar nenhuma das 80 cadeiras vagas e aí havia que encostar ao balcão, o que faríamos com satisfação pela oportunidade de desfrutar aquele ambiente anárquico, e electrizante. Não raras vezes havia discussões políticas e clubísticas inflamadas, ali estacionavam também alguns leitores solitários, algumas pessoas sinistras e outras até que falavam sozinhas. (…) O lugar tinha um charme decadente que já não se encontra mais nem tem substituto que se possa comparar, numa Lisboa que vai morrendo aos poucos.”
“Mais abaixo, na Praça da Figueira, o café Videirinha e a pensão Ibérica resistiam heroicamente nos últimos meses de 2017, sob ameaça de fecho. (…) Os clientes sentavam-se ao balcão para comer uma canja, um bacalhau cozido, beber imperiais acompanhadas de tremoços ou para tomar um café e um bagaço. Volta e meia saíam uns “bitaites” e umas “piadolas” ou uma resposta mais torta mas o ambiente era amistoso e sobretudo autêntico. O dono do estabelecimento estava disposto a negociar a renda e a pagar um preço mais elevado mas o proprietário do edifício não quis negociar. Agora esta verdadeira pérola será substituída provavelmente por um lugar luxuoso chamado Giuseppe’s, Low Fat Burger ou um lounge bar.”
“O pequeno café de bairro com as suas estimáveis particularidades, a sua clientela castiça e as relações que se criam entre estes não são substituíveis por modernos bistrôs self-service de paredes brancas, luminosas e desnudadas, nem por relações anónimas e mecânicas.”
“O que está a acontecer é que talvez pela primeira vez na história da cidade os pobres estão a ser expulsos do centro, e isso está a acontecer a grande velocidade.”
“Se expulsarem todos os pobres do centro, e acabarem com a mistura de estratos sociais que fazem a cidade, a Lisboa que Wim Wenders descobriu um dia morrerá tristemente.”
Texto completo aqui.
Fotos de Lisboa por PDuarte e A. Morgenstern
La Société du Smartphone
La Sociètè du Spectacle
La Société du Smartphone
O livro La Société du Spectacle foi publicado pela primeira vez em Paris no ano de 1967. Em Portugal a primeira tradução é de 1972 e foi seguida de perto pelo autor Guy Debord. É com base nesta edição que se elaborou o détournement de alguns capítulos substituindo a palavra «espectáculo» por «smartphone» mas mantendo a numeração e a sequência original. Este détournement, assim como as fotos ilustrativas, são da autoria de Maria Ramalho.
3. O Smartphone apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade, como uma parte da sociedade, e como instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, ele é expressamente o sector que concentra todo o olhar e toda a consciência. Pelo próprio facto de este sector ser separado, ele é o lugar do olhar iludido e da falsa consciência; e a unificação que realiza não é outra coisa senão uma linguagem oficial da separação generalizada.
4. O Smartphone não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediatizada por imagens.
5. O Smartphone não pode ser compreendido como o abuso de um mundo da visão, o produto das técnicas de difusão massiva de imagens. Ele é bem mais uma Weltanschauung tornada efectiva, materialmente traduzida. É uma visão do mundo que se objectivou.
6. O Smartphone compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o resultado e o projecto do modo de produção existente. Ele não é um suplemento ao mundo real, a sua decoração readicionada. É o coração da irrealidade da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares, informação ou propaganda, publicidade ou consumo directo de divertimentos, o Smartphone constituiu o modelo presente da vida socialmente dominante. Ele é a afirmação omnipresente da escolha já feita na produção, e o seu consumo corolário. Forma e conteúdo do Smartphone são identicamente a justificação total das condições e dos fins do sistema existente. O Smartphone é também a presença permanente desta justificação, enquanto ocupação da parte principal do tempo vivido fora da produção moderna.
12. O Smartphone apresenta-se como uma enorme positividade indiscutível e inacessível. Ele nada mais diz que «o que aparece é bom, o que é bom aparece». A atitude que ele exige por princípio é esta aceitação passiva que de facto ele já obteve pela sua maneira de aparecer sem réplica, pelo seu monopólio da aparência.
13. O carácter fundamentalmente tautológico do Smartphone decorre do simples facto que os seus meios são ao mesmo tempo a sua finalidade. Ele é o sol que não tem poente, no império da passividade moderna. Recobre toda a superfície do mundo e banha-se indefinidamente na sua própria glória.
15. Enquanto indispensável adorno dos objectos hoje produzidos, enquanto exposição geral da racionalidade do sistema, e enquanto sector económico avançado que modela directamente uma multidão crescente de imagens-objectos, o Smartphone é a principal produção da sociedade actual.
16. O Smartphone submete a si os homens vivos na medida em que a economia já os submeteu totalmente. Ele não é nada mais do que a economia desenvolvendo-se para si própria. É o reflexo fiel da produção das coisas, e a objectivação infiel dos produtores.
30. A alienação do espectador em proveito do objecto contemplado (que é o resultado da sua própria actividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo. A exterioridade do Smartphone em relação ao homem que age aparece nisto que os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos representa. Eis porque o espectador não se sente em casa em nenhum lado, porque o Smartphone está em toda a parte.
32. O Smartphone na sociedade corresponde a um fabrico concreto de alienação. A expansão económica é principalmente a expansão desta produção industrial precisa. O que cresce com a economia movendo-se para si própria não pode ser senão a alienação que estava justamente no seu núcleo original.
34. O Smartphone é o capital a um tal grau de acumulação que se torna imagem.
37. O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o Smartphone faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois o seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e face ao seu produto global.
42. O Smartphone é o momento em que a mercadoria chega à ocupação total da vida social. Não só a relação com a mercadoria é visível, como também não se vê senão ela: o mundo que se vê é o seu mundo. A produção económica moderna estende a sua ditadura extensiva e intensamente.
215. O Smartphone é a ideologia por excelência, porque expõe e manifesta na sua plenitude a essência de qualquer sistema ideológico: o empobrecimento, a submissão e a negação da vida real. O Smartphone é materialmente «a expressão da separação e do afastamento entre o homem e o homem».
218. A consciência espectadora, prisioneira dum universo estreitado, limitada pelo écran do Smartphone, para trás do qual a sua vida foi deportada, não conhece mais do que os interlocutores fictícios que lhe falam unilateralmente da sua mercadoria e da política da sua mercadoria. O Smartphone, em toda a sua extensão, é o seu «sinal do espelho». Aqui se põe em cena a falsa saída dum autismo generalizado.
219. O Smartphone que é a extinção dos limites do eu e do mundo pelo esmagamento do eu que a presença-ausência do mundo assedia, é igualmente a supressão dos limites do verdadeiro e do falso pelo recalcamento de toda a verdade vivida sob a presença real da falsidade que a organização da aparência assegura.