Não há alternativa de esquerda para uma ocupação

1216158071boy_running_with_flagEspero conseguir ir ouvir a Judith Butler, às 18h do próximo dia 2 de Junho, no Teatro Maria Matos, “desfazer o género e outras subversões”, como titula António Guerreiro na entrevista que lhe faz hoje, no Público. A autora do Gender Trouble, entre outros textos importantes, estará em Portugal para que, ao vivo, se aprofundem este e outros debates para os quais tem contribuído.

Um dos temas que tem abordado é a ocupação da Palestina, onde demonstra uma notável evolução, sobretudo se tivermos em conta as dificuldades que se levantam ao defender-se o binacionalismo, entendido como o entende Edward Said, no seio de uma família sionista. A dose de coragem que é necessária para este grau de confronto é notável, deve ser aplaudido, mas não deve ser razão para que, havendo contradição, o debate ideológico exista sem qualquer inibição. Dizer ainda, sobre este aspecto, que a mudança da opinião publica sobre Israel e a Ocupação da Palestina, a cada dia mais informada e por isso com sinais de que o tempo da tolerância face à impunidade de Israel começam a acabar (até no congresso da FIFA), em muito se deve à coragem de judeus e judias que, como Butler, deixaram em consciência de contribuir para a absolvição histórica de uma das últimas ocupações do planeta.

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“judeicidade” que devemos respeitar é aquela que perdeu todo o respeito por Israel e o combate sem nenhuma ilusão. A sua natureza colonial e expansionista faz com que “a violência de Estado e as modalidades coloniais de expulsão e de repressão” não são reformáveis, por mais boa vontade que tenham os “judeus de esquerda” a quem Butler se dirige.

Não há nenhuma dúvida de que Israel não tem o monopólio da “tradição judaica”, e que essa confusão pisa a linha vermelha que separa a generalidade dos humanistas dos anti-semitas. Contudo, tal certeza deve ser igualmente sólida na hora de concluir de que qualquer alternativa viável para o território que passe pela aceitação, indefinida, de um Estado colonial, reconhecendo-o como algo que se humaniza, é aceitar que se se está condenado apenas a poder negociar o grau da violência com que se é ocupado, cantado com mais ou menos cinismo ou emoção.

“É muito importante que os judeus de esquerda defendam a justiça social e política para o povo palestiniano que está privado de direitos básicos de cidadania e dos poderes de auto-determinação. São princípios democráticos que todos deviam apoiar, incluindo os judeus que estão comprometidos com a democracia, como eu estou. (…) A missão para os judeus de esquerda consiste em opor-se absolutamente ao anti-semitismo e a todas as formas de racismo, mas também lutar pela justiça social – um dos mais importantes legados do judaísmo progressista. Assim, pode-se e deve-se afirmar a nossa judeicidade, combater o anti-semitismo e criticar o Estado de Israel  pelo seu militarismo e falta de democracia.” Judith Butler

Esta percepção fica particularmente evidente descendo ao terreno dos factos que desenharam a realidade da política dos dois Estados desde a fundação de Israel, tão galopante a ganhar  terreno como cadastro, mas também clara se pensarmos as respostas que não podem ficar por dar se a ambição for encontrar uma solução capaz de produzir uma paz duradoura entre os povos na região. Qual a viabilidade de um Estado que ocupa outro dominar com justiça os recursos, as fronteiras ou os tribunais? Como escolher uma percentagem de terreno, que também quer dizer de gente, que perderá indefinidamente o direito de regresso às terras de onde foram expulsos? Ou ainda, como dar garantias, democráticas e de convivência, aos judeus que aceitem viver num estado onde a cada homem corresponda a um voto, depois de décadas em que aconteceu precisamente o contrário?

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Por tudo isto é importante pensarmos que apesar da mudança da opinião pública e da aproximação às teses que dão uma resposta justa e universalista para o futuro da Palestina, há ainda um longo caminho a percorrer, sobretudo por aqueles que insistem na moralização de Israel, como se fosse possível sonhar com um colonialismo de rosto humano, capaz de um esboço que seja de “justiça social”. Os judeus de esquerda têm a difícil e terrível escolha de viver em Israel, para aí o sabotar e combater, ou partir. Não se vislumbra alternativa de esquerda para uma ocupação.

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Uma opinião sobre “Não há alternativa de esquerda para uma ocupação

  1. Dª Leonor existe algo não dito ou aceitarmos numa narrativa não verdadeira de que os judeus askhenazes são semitas.São originalmente, oriundos do reino Khazar q existe no séc VIII onde hoje é a Ucrânia , essa oligarquia nazi apoiada por judeus, Geórgia(Staline-Nome :José Filho do Judeu David ),etc.

    Temos os Judeus Sefarditas (na Península Ibérica oriundos do Norte de África e Médio Oriente(Palestina) e que são preteridos nos cargos políticos de <Israel.

    Temos os Judeus da Etiópia/Eritreia que se bem está lembrada-há 2 semanas- que são pretos(é o que eles pensam…) e são escorraçados,'imigrantes'.

    E,há os descendentes dos Judeus da Biblia que se converteram ao Islamismo.

    Donde, os askhenazes , não são Semitas!O que eles são , é Antissemitas.

    Se quiser saber mais , dê uma olhada aqui

    Aujourd’hui 95 % des juifs ne sont pas des descendants d’Hébreux ou de Sémites

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