Da resistência organizada ao acto isolado

DSCF3459“Segundo fontes policiais, segunda-feira perto de uma colónia na Cisjordânia ocupada, uma jovem israelita foi morta à facada por um palestiniano que também agrediu mais dois outros israelitas antes de ser abatido por um segurança. O palestiniano saiu do seu carro numa paragem de autocarros geralmente utilizada pelos colonos residentes do bloco de colónias de Goush Etzion, relatou a policia.”

Este excerto de notícia, de um site que aconselho vivamente no que diz respeito à actualidade do Médio Oriente- “Assawara”, indica dois elementos importantes: “o palestiniano foi morto por um segurança” e “uma paragem de autocarros utilizada por colonos israelitas”. A fotografia que ilustra este texto é de uma paragem de autocarros perto de um dos check point de Nablus, cidade no norte da Cisjordania sitiada por colónias israelitas. A fotografia foi tirada dentro de um táxi e apenas os palestinianos que têm visto podem passar perto destes colonos. Uma paragem que deve assemelhar-se à do fait divers acima relatado. Mas, voltando aos dois elementos importantes é necessário sublinhar, por um lado, que os seguranças privados que protegem as colónias têm direito ao porte de arma, ou seja, direito a matar e, por outro, estas paragens de autocarro mostram a configuração apartheidista do esquema de colonização israelita. Existem autocarros exclusivos aos colonos, para além, claro, destas colónias ilegais serem altamente protegidas pelo exército israelita e terem um perímetro de segurança que açambarca muitas vezes os terrenos de cultivo e de subsistência dos palestinianos.

O que é um fait divers para os israelitas, não o é para os palestinianos. Quotidianamente, os palestinianos são mortos por estes colonos, arbitrariamente e com toda a impunidade. Para muitos dos Palestinianos de Nablus ou outras cidades sitiadas, o contacto com os colonos faz-se através do vidro de um carro. A questão que se coloca então não pode ser o que levou um palestiniano a cometer tal acto, mas como é que tais actos não acontecem mais vezes. Dito isto, não cabe aqui fazer uma apologia de actos individuais como forma de resistência à opressão colonial vivida pelos palestinianos. No entanto, a cristalização da opressão colonial na Palestina tem exterminado pouco a pouco a resistência colectiva organizada conduzindo ao desespero dos actos isolados. Em situação de desapossamento extremo as armas que os palestinianos têm para combater o Estado colonial limitam-se ao seu próprio corpo. E embora parta da convicção que o fim desse Estado não estará mais perto através de actos desta natureza, na condição de injustiça apenas me resta estar solidário com a resistência palestiniana em qualquer que seja os moldes desse combate.

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